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Artigo

Tá difícil! Cansei!

Essas são algumas das expressões que mais ouvi nas últimas semanas de vários empresários. Na verdade, justiça seja feita, escuto coisas dessa ordem desde onde alcança a minha memória, mas ultimamente as coisas desandaram e a já sofrida atividade econômica parece ter entrado mesmo em colapso. Não me refiro só  à pandemia, pois é válido lembrar que, desde 2015, tivemos o início de um ciclo de recessão e desemprego que só aumenta desde então. No Nordeste, ainda houve o tombo do setor turístico em 2019, em razão do óleo despejado nas nossas belas praias. E quando parecia que nada de mais grave poderia acontecer, eis que surgem os lockdowns intermináveis. Acho até que se Euclides da Cunha vivesse nos dias atuais teria ampliado sua célebre frase para expressar que não só o sertanejo, mas também o empresário brasileiro é, antes de tudo, um forte.

Não bastassem todas as dificuldades naturais daqueles que fazem a roda da prosperidade girar, como a alta carga tributária, a  burocracia, a corrupção e a complexa legislação vigente, ainda se observa um país totalmente dividido e que politiza praticamente tudo e o tempo todo, de remédios a oxigênio, de vacinas a mortes. Incrível! Mas o nosso valoroso empresário tupiniquim insiste em sobreviver, bem no meio desse confuso cenário, tendo de driblar restrições frequentes à sua atividade comercial e sendo quase sempre indevidamente tratado como coadjuvante de um contexto do qual deveria ser protagonista maior. Outras vezes, ainda pior, é tratado como culpado quando seu correto posto é o de herói nacional.

O certo é que complicamos demais as coisas no Brasil. Enquanto sociedade, temos uma verdadeira adoração à auto sabotagem e à lógica do “quanto pior melhor”.  Assistir a cinco minutos de qualquer telejornal comprova a pseudo certeza de que só no Brasil existem problemas, como se nada estivesse sendo feito, como se não estivéssemos diante de uma realidade para a qual não há fórmulas mágicas e como se o resto do mundo todo estivesse indo muito bem, obrigado. Porém, sabemos que nada disso é verdade. Talvez por esse motivo alguém já tenha dito antes que esse país não corre o mínimo risco de dar certo. Eu até não duvidaria dessa frase se não fosse exatamente o detalhe da existência da atípica classe empresarial brasileira, exatamente porque ela é a antítese da lógica, eis que resistente a um cenário constante e sucessivo de adversidades. Se há os que fazem de tudo para ver sua concepção pessoal de mundo triunfar, a qualquer custo, mesmo que a contrapartida seja o insucesso geral, inclusive o seu, o empreendedor nacional está sempre remando contra a maré e buscando um futuro coletivo próspero no mar das instabilidades e das incertezas. No meio de toda essa briga sem vencedores, esse símbolo maior da resistência nacional continua acreditando numa improvável conspiração do universo em seu (nosso) favor.

Engana-se quem pensa que estamos polarizados entre esquerda e direita, entre os que são a favor e os que são contra o governo federal. Nosso maior problema não parece ser essa dicotomia aparente. É preciso acordar e perceber que só existem dois lados no atual cenário: o lado dos que torcem a favor do Brasil e o lado dos que  – incrivelmente – torcem contra o seu próprio país. A situação está mesmo muito complicada e não dá pra dizer diferente, mas os nossos heróicos empreendedores, mais uma vez, são o símbolo dessa resistência e da esperança por tempos melhores para milhões de pessoas que precisam trabalhar para sobreviver e seguir vivendo. É, difícil está, cansados estamos, mas façamos como os empresários, nunca desistamos.

Leonardo Coêlho é advogado, sócio do escritório Leonardo Coêlho Advocacia e presidente da Comissão de Direito do Trabalho do IAP-PE.

Artigo originalmente publicado na coluna “Pensando Bem”, da Revista Algomais em abril/2021.

Publicado por: Leonardo Coêlho
Em: 21 de abril de 2021

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